Presidente disse que não vai mexer no passado, mas questiona CNV
O
presidente Jair Bolsonaro disse hoje (30), em Brasília, que vai respeitar a Lei
da Anistia de 1979 e não pretende “mexer no passado”. Perguntado por
jornalistas se vai contestar a versão oficial da Comissão Nacional da Verdade
(CNV) sobre a morte do advogado Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, Bolsonaro questionou o trabalho
realizado pelo grupo.
“Você acredita em Comissão da Verdade? Foram
sete pessoas indicadas pela Dilma [Rousseff, ex-presidente, que também foi
presa durante a ditadura militar]. Não é contestar. Se gastou mais de R$ 5
bilhões, dinheiro público do povo que trabalha para dar para quem nunca
trabalhou. Você acha justo que a gente tem que continuar? Eu não pretendo mexer
no passado, eu pretendo respeitar a Lei da Anistia de 79”, disse.
Relatório da Comissão Nacional da Verdade
(CNV) aponta que o corpo de Fernando Santa Cruz foi transportado da chamada
Casa da Morte, um centro clandestino de tortura e assassinato, localizado em
Petrópolis (RJ), para a Usina Cambahyba, no norte fluminense, local onde teria
sido incinerado, junto com corpos de outros militantes políticos contrários ao
governo militar. A informação estaria baseada no depoimento do ex-delegado do
DOPS/ES, Cláudio Guerra, em 23 de julho de 2014. Segundo a CNV, Santa Cruz foi
preso por agentes do DOI-CODI/RJ em 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro,
mas os órgãos oficiais do regime não admitiram sua prisão alegando que o
advogado estava foragido.
Bolsonaro afirma que o militante de esquerda
durante a ditadura militar (1964-1985) foi morto por integrantes da Ação
Popular (AP), um grupo de luta armada contra o regime, e não pelas Forças Armadas.
Grampos
Sobre a invasão de telefones de autoridades, o
presidente Jair Bolsonaro reafirmou que
trata-se de um crime e que o jornalista norte-americano Glenn Greenwald é o
responsável por dar publicidade a essa ação.
“A invasão foi por terceiros. Mas quando você
pega uma informação dessa, não sei nem se é verdade o que tirou lá dentro, e
começa a passar para frente você está dando repercussão a um crime, que você
tem obrigação de tentar desvendar”, disse.
Greenwald é fundador do site The Intercept, que
divulgou mensagens atribuídas a procuradores da Lava Jato e ao ministro da
Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, então juiz que comandava as ações da
Lava Jato, em Curitiba.
O principal suspeito de invadir as
comunicações privadas de autoridades, Walter Delgatti Neto, afirmou, em
depoimento, que foi ele quem entregou voluntariamente o conteúdo das mensagens
a Greenwald e que não foi pago para isso. Os quatro presos temporários
suspeitos de invadir os celulares de Moro, do procurador Deltan Dallagnol,
coordenador da força-tarefa da Lava Jato, e outras autoridades brasileiras, serão
ouvidos novamente hoje em audiência de custódia, na 10ª Vara Federal, em
Brasília.
No fim de semana, Bolsonaro disse que o
jornalista não deve ser deportado, mas
"talvez pegue uma cana aqui no Brasil". Ontem (30), o porta-voz
da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que as declarações tratam-se de uma
"percepção pessoal" do presidente.
Congresso
As declarações foram dadas na manhã de hoje (30),
quando Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada, após se reunir com o presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No encontro com Maia, o
principal assunto foi a tramitação texto da reforma da Previdência, que será
votada em segundo turno na Câmara, e é uma prioridade do governo.
O presidente também comentou sobre a proposta
de legalização do garimpo em terras indígenas, em elaboração pelo Ministério de
Minas e Energia. “A gente quer regularizar esse negócio para evitar o que
sempre há. Às vezes conivência dos índios, às vezes invasão de garimpeiros”,
disse.
A Polícia Federal investiga a suposta
invasão de garimpeiros na terra indígena do povo Waiãpi, no Amapá, e a
morte do chefe da aldeia Waseity, Emyra Wajãpi, de 62 anos, assassinado a
golpes de faca na semana passada.
Fonte:
Agência Brasil
Foto:
Antônio Cruz
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Política